
A forma como lidamos com a aparência diz muito sobre quem somos. O cabelo, em especial, é um dos principais símbolos de identidade e liberdade de expressão. Quando estilos são rotulados como “masculinos” ou “femininos”, limitam-se às escolhas que deveriam ser pessoais. Para pessoas trans e não binárias, esse cenário pode gerar insegurança e exclusão. Por isso, o acolhimento no ambiente estético vai além da técnica — é uma questão de respeito e bem-estar.
De acordo com o docente da área de beleza do Senac Viamão, Alex Giovani Zitto, os desafios ainda são muitos. A falta de preparo, o preconceito e a comunicação inadequada são barreiras no dia a dia dos salões e barbearias. “Para superá-los, o caminho passa pela educação continuada, pela empatia e por uma postura profissional livre de julgamentos, criando um espaço acolhedor, sem preconceitos, pré-julgamentos, procurando identificar e confirmar como se referir de forma assertiva as pessoas, utilizando pronomes corretamente, mas, principalmente, respeitando o ser humano acima de qualquer coisa”, afirma.
Segundo Alex, a resistência social em aceitar que homens usem cabelos longos, mulheres optem por cortes curtos ou também o preconceito com pessoas trans e não-binárias ainda estão fortemente ligados a estereótipos baseados em papéis de gênero historicamente impostos. Em diversas culturas e contextos, padrões específicos de beleza continuam sendo reforçados por fatores culturais e regionais, o que limita a liberdade individual.
Além disso, a baixa representatividade de modelos e influenciadores que rompem com essas normas contribui para a manutenção dessas barreiras. No entanto, avanços na educação e maior presença da diversidade nas mídias têm potencial para desconstruir essas ideias e abrir espaço para novas formas de expressão.
Além da técnica: o poder da inclusão
O corte de cabelo, nesse sentido, se torna uma ferramenta poderosa de afirmação da identidade pessoal, independentemente do gênero ou orientação sexual. Ele está diretamente relacionado à construção de uma identidade visual alinhada à percepção interna de cada pessoa. O docente ressalta o papel ativo que o profissional da beleza exerce nessa desconstrução, educando e sensibilizando o cliente para que compreenda que estilo é uma escolha pessoal, livre de classificações tradicionais.
“Isso pode ser feito na prática ao sugerir cortes sem rotulá-los como “masculinos” ou “femininos”, valorizando a autenticidade e a individualidade. Ao promover essa liberdade de escolha e acolher diferentes identidades, o profissional da beleza atua como um agente transformador na sociedade”, destaca Alex.
O docente finaliza ressaltando que o respeito e acolhimento validando a identidade de uma pessoa através do nome social e do pronome demonstra empatia e compreensão. A escuta ativa cria um ambiente seguro para o cliente expressar suas preferências e preocupações criando uma conexão emocional positiva. “Quando o cliente se sente compreendido e respeitado, a experiência estética pode se transformar em algo muito além do visual, promovendo o bem-estar emocional”, conclui.