Trabalhar a criatividade é uma forma de transformar a rotina escolar, deixando-a mais dinâmica e proveitosa, pois incentiva os alunos a vivenciarem os tempos escolares com mais dedicação. Muito nos prendemos na questão da disciplina escolar, responsabilizando esse fator pela rotina de aulas enfadonhas e vazias de significados.
Mas pense comigo: se conseguirmos nos libertar da questão disciplinar, conseguiremos estimular a criatividade de nossos estudantes? Conseguiremos envolvê-los mais nos nossos objetos de estudo, contemplando os saberes que já possuem e ampliando estes para a vida em sociedade? A resposta é simples, mas exige desconstrução: estimular a criatividade dá a chance de os alunos construírem seu conhecimento, fazendo descobertas e identificando os elementos que podem comprovar as teorias transitórias que perpassam os conteúdos escolares.
O papel centralizador do professor mudou. Hoje, um docente comprometido com seu aluno, coloca-se como mero coadjuvante na aprendizagem, como um mediador da informação, do conhecimento e dos estudantes que carecem de aulas que lhe tenham sentido. Pensando por este viés, promover situações de teorizações entre alunos, fomentando o diálogo e a pesquisa, proporciona ao próprio educador as informações de que precisa para embasar suas aulas e desenvolver projetos frutíferos.
Nossas salas de aula são habitadas por jovens, adolescentes, crianças e adultos, todos cheios de planos, informações próprias, vivências individuais, ideias. Ouvir com sinceridade, olhar com sensibilidade e estabelecer relações honestas são ações-chave para a transformação das aulas e da prática docente, elevando assim a experiência escolar dos alunos a um novo e significativo patamar de apropriação do conhecimento.
Certo, mas e na prática, como fazer a criatividade fluir em sala? As possibilidades de trabalho pedagógico disponíveis são incontáveis, mas podemos focar nas artes como ferramenta de estímulo e como elemento imprescindível no desenvolvimento integral de nossos alunos. Música, Dança, Pintura, Escultura, Literatura, Teatro e Cinema compõem as sete artes, todas com particularidades que possibilitam ao professor desenvolver seus alunos em sala de aula.
Peças teatrais, por exemplo, permitem desenvolver a autonomia, a segurança para falar em público, a interação entre os alunos, situações todas que se aplicam em seu ambiente de prática profissional e também em sua vida pessoal. Ainda, transformar um elemento textual ou uma situação profissional em peça de teatro possibilita aos alunos desenvolverem a gestão de tempo, de pessoas e de recursos. O trabalho com a dramaturgia é tão rico que, ainda, leva o aluno a desenvolver pensamento estratégico, pois é necessário que planeje e transforme o escrito em oralidade e corporeidade, de modo que o público alvo compreenda as informações transmitidas.
Mas a arte é muito mais do que apenas teatro. Utilizar a música com turmas de adolescentes e jovens é uma estratégia que não envelhece e jamais cai em desuso, pois a juventude é movimento, é vida que pulsa. Nesta mesma perspectiva, as artes plásticas dão ao aluno a liberdade de expressão, compreendendo ainda duas esferas a que poucos possuem acesso no decorrer de suas vidas: inteligência emocional e afetiva. Ana Mae Barbosa, especialista brasileira em arte-educação, elucida esse ponto de maneira prática. Questionada sobre a importância do ensino de música, artes visuais, dança e teatro na educação básica, responde:
“é absolutamente importante o contato com a arte por crianças e adolescentes. Primeiro, porque no processo de conhecimento da arte são envolvidos, além da inteligência e do raciocínio, o afetivo e o emocional, que estão sempre fora do currículo escolar. A minha geração fez sua educação emocional a partir de filmes de Hollywood, o que é uma barbaridade. Não se conversava sobre sentimentos na escola. Segundo, porque a arte estimula o desenvolvimento da inteligência racional, medida pelo teste de QI. O pesquisador Janes Catteral estudou a influência da aprendizagem de arte na inteligência, que será aplicada a qualquer outra disciplina. Além disso, grande parte da produção artística é feita no coletivo. Isso desenvolve o trabalho em grupo e a criatividade.” (2016).
Compreendida a importância da criatividade em sala, quero agora te levar a refletir comigo: você acessa frequentemente o projeto Político-pedagógico do Senac? Sabia que a criatividade está contemplada em todas as sessões do documento? Ainda, já sabe que em suas páginas existem dezenas de sugestões de atividades para estimular a criatividade dos alunos? Enquanto docentes de uma instituição que vive e acredita no poder de transformação da educação, precisamos estar intimamente ligados ao nosso documento norteador, pois com ele temos elucidadas as dúvidas que nos ocorrem na prática profissional e, ainda, em suas páginas, temos respostas para perguntas que ainda sequer fizemos! A criatividade, citando apenas este exemplo, está contemplada nas páginas 28, 39, 46, 60, 62 e 63.
Temos em nossas mãos um documento dinâmico, que quando esgotadas suas possibilidades ainda nos sugere links, textos, vídeos. Explorar seu conteúdo e tê-lo sempre como amparo no planejamento das aulas qualifica e significa nossa ação docente, nosso fazer pedagógico. Não podemos esquecer, ainda, nosso compromisso com as marcas formativas do Modelo Pedagógico Nacional, que são o domínio técnico-científico, visão crítica, atitude empreendedora, atitude sustentável e atitude colaborativa com foco em resultados. Estamos compreendendo estas marcas em nosso planejamento e desenvolvimento de aulas? Estamos olhando nossos alunos com vistas a desenvolvê-los plenamente, como o PPP também norteia?
Desde outubro, quando iniciamos nossa recente caminhada, nosso foco de conversas e orientações, mesmo que em momentos informais, tratam do olhar sensivelmente para o educando, a fim de ouví-lo, entendê-lo e assim, conseguir organizar meios de auxiliá-lo em sua vida e contribuir para sua formação integral. Mais uma vez fica a reflexão de nosso papel enquanto docentes, seja qual for nossa área de atuação, para que entendamos que alinhar as competências esperadas deles à vida social e os elementos que a constituem também é nosso papel em sala de aula, enquanto educadores e trabalhadores das ciências que, não à toa, é chamada de Humanas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BARBOSA, Ana Mae. A importância do ensino das artes da escola. 2016. Disponível em <https://epoca.globo.com/ideias/noticia/2016/05/importancia-do-ensino-das-artes-na-escola.html>. Acesso em 10/03/2020.
BARROS, Jussara de. Estratégias de ensino-aprendizagem: Desenvolvendo a criatividade. Disponível em <https://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/desenvolvendo-criatividade.htm>. Acesso em 10/03/2020.
FREIRE, Madalena. Educador educa a dor. 6ª ed. Rio de janeiro/São Paulo: Editora Paz e Terra, 2017.